Amazônia. Essa palavra, ou melhor dizendo, essa região, ainda faz parte do imaginário popular como sendo um lugar exótico, desconhecido. Turisticamente falando, curiosamente ela é tão ou mais visitada por estrangeiros do que pelos próprios brasileiros, que no geral a imaginam como algo “distante”, intocável, mas que, a quem se dispõe a conhecê-la, percebe que além da conhecida imensa área selvagem, há muitos locais que podem ser visitados sem que haja um grande esforço ou sem necessitar passar longas horas viajando região adentro.
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Casas de ribeirinhos na ilha de Paquetá-Açu, em Belém - Pará. Por Tito Garcez em 2014
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Aproveite e acompanhe outras postagens sobre a Amazônia, conferindo relatos e muitas fotos de lindos lugares localizados nos estados do Pará e do Amapá (clique nos nomes para acessar).
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Rabeta (pequena embarcação motorizada) 'Paciência' navegando pela baía do Guajará |
Essa é a primeira publicação de uma série sobre a Amazônia, que contará com relatos sobre locais visitados nos estados do Pará e do Amapá, onde pude conhecer lugares como a histórica cidade de Belém e algumas de suas ilhas; a ilha de Maiandeua - mais conhecida como Algodoal, localizada no litoral paraense; a importante cidade de Santarém e a famosa vila de Alter do Chão, ainda no estado do Pará e, por fim, alguns dos principais atrativos da “capital do meio do mundo”, Macapá.
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Cerâmica Marajoara produzida em Icoaraci |
Nesses intensos dias de passeios e descobertas, tive a oportunidade de conhecer belas paisagens, descobrir a existência de diversas espécies animais e vegetais e ter um contato mais próximo com algumas coisas que habitavam o meu imaginário há tempos: botos cor-de-rosa, vitórias-régias e guarás. Não posso esquecer também dos muitos nomes e expressões que foram aprendidos e/ou escutados exaustivamente, como o famoso “égua” e as muitas palavras de origem indígena e também, porque não, da culinária local.
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Casa cercada por açaizeiros na ilha de Paquetá-Açu |
E tudo não poderia ter sido visto, vivenciado, aprendido, se eu não tivesse tido a oportunidade de conhecer - e de rever – muitas pessoas especiais, que fizeram com que a viagem fosse espetacular. Em cada canto pude aprender bastante e ter momentos divertidos graças a pessoas como Anderson, Thaís, Carina, Natália, Lucas, Stella, Maristella, Miguel, Alex, Marcos, Larissa, Henrique, Suzana, Kátia, Andrés, Renata, Aline, Kinho, Marilia, Edilza, Arlete... e... não poderia esquecer do amigo Yuri, entre outros. Meu muito obrigado a todos! ;)
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Barcos e a verticalização de Belém vistos da baía do Guajará |
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Barcos navegando pela baía do Guajará |
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Barco e skyline de Belém |
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Barco navega ao final da tarde pela baía do Guajará |
Navegando pela baía do Guajará
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Trapiche de Icoaraci |
Para começar os relatos da série, nada melhor que mostrar um pouco do que pode ser visto quando fazemos uso da navegação, que é notadamente o principal meio de locomoção dos amazônidas, ou, mais especificamente, quando viajamos com destino à ilha de Cotijuba. Para tanto, é necessário embarcar geralmente em pequenos barcos - que, em sua maioria, são chamados popularmente de “pô-pô-pôs”, no Trapiche de Icoaraci, um distrito de Belém. O trajeto entre o Centro da capital paraense e o distrito leva, de ônibus, em torno de 40 minutos para ser percorrido e a tarifa custa R$ 2,20. Do trapiche até a ilha a passagem custa R$ 4,00. Sendo assim, mesmo que o objetivo não seja visitar a ilha de Cotijuba, é possível fazer um bate e volta só para apreciar a paisagem e observar um pouco da vida dos ribeirinhos.
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Desembarque de carga no trapiche de Icoaraci |
No trapiche, que é uma espécie de terminal fluvial, já é possível observar o vai e vem de embarcações utilizadas não só para transporte de pessoas, mas também para a pesca e até para o transporte de cargas. A partir dele, não pode deixar de ser notada a presença do enorme navio “Castillo de Guadalupe” que contrasta absurdamente com o diminuto tamanho dos pô-pô-pôs e das chamadas rabetas, que são canoas motorizadas. Dali chegam e partem embarcações para diversas ilhas da região, e possivelmente até para a imensa ilha do Marajó.
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Pô-pô-pô e navio cargueiro na baía do Guajará |
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Interior de um Pô-pô-pô que liga Icoaraci a Cotijuba através baía do Guajará |
Iniciando a navegação, mesmo com o tempo fechado, é possível ver, a dezenas de quilômetros de distância, a verticalização da área central de Belém. Observa-se, também, a movimentação dos barcos, que são os únicos meios de transporte a servir muitas comunidades da região. Eles possuem as mais variadas formas, tamanhos e cores, então é sempre interessante observar cada um, ver o que transportam, de onde vêm e para onde vão etc.
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Embarcações e a verticalização de Belém vistos da baía do Guajará |
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Casa de madeira na ilha de Jutuba |
Em certo momento da travessia, chega-se num ponto que mais parece um “furo” ou canal de ligação, que separa as ilhas de Paquetá-Açu e Jutuba, que aparentemente seriam completamente selvagens se não fossem habitadas por alguns ribeirinhos, que constroem suas casas geralmente com madeira e em altura suficiente para protegê-las das cheias, que são comuns à região amazônica no período chuvoso - chamado por eles de inverno amazônico - que na região Norte geralmente ocorre entre dezembro e abril.
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Unidade Pedagógica Jutuba, na ilha de mesmo nome |
Além das pequenas construções de madeira utilizadas para moradia, é possível notar inclusive a existência de uma construção maior, a Unidade Pedagógica Jutuba que, localizada na ilha de mesmo nome e aparentemente isolada, serve como centro de ensino para os que dependem de barcos para ir às aulas. Ela parece ficar no meio do caminho entre a ilha de Cotijuba, que é a maior entre as ilhas da região, e o distrito de Icoaraci.
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Casa e açaizeiros na ilha de Paquetá-Açu |
Nas ilhas, a vegetação abundante chama a atenção. Destacam-se os imensos manguezais, que fazem qualquer canoa parecer um nada quando estão lado a lado, e também os densos pés de açaí, os chamados açaizeiros, que ao longe parecem uma palmeira, e, de perto, alguns exemplares nos fazem duvidar que as pessoas consigam subir em pés de grossura mínima para colher as frutinhas, que se transformarão na mais famosa iguaria, não só paraense como também nortista.
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Pô-pô-pô transporta estudantes (e suas cadeiras) pela baía do Guajará |
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Barco de pesca 'Meu Sonho' navega pela baía do Guajará |
Após navegar por aproximadamente 45 minutos, chega-se à ilha de Cotijuba, que tem parte de seu território também voltado para a imensa Baía do Marajó. Mais informações sobre a ilha e sobre a sua principal praia, a do “Vai-Quem-Quer”, serão conhecidas na próxima publicação.
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Barco Lady Liria que faz a travessia entre Cotijuba e Icoaraci |
No retorno, saindo do terminal hidroviário de Cotijuba - oficialmente chamado de Poeta Antônio Tavernard - em direção a Icoaraci, dessa vez a navegação foi feita pelo barco Lady Liria, que parece ser a maior embarcação a transportar pessoas entre os dois pontos. De dois andares, ela pertence à prefeitura de Belém e faz o transporte das pessoas cobrando apenas o valor da passagem do ônibus coletivo urbano, ou seja, R$ 2,20.
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Aranha em barco na travessia entre Cotijuba e Icoaraci |
No meio da travessia, a fauna da região se fez presente com o repentino aparecimento de uma aranha, que se escondia entre as madeiras da embarcação. Fato natural, afinal estamos falando de uma região que, apesar de não ser desabitada pelas pessoas, ainda possui diversas áreas com mata fechada. Passado o pequeno susto e após o repentino sumiço tal qual o aparecimento, continuamos a navegar normalmente.
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Pôr-do-Sol visto a partir da orla de Icoaraci |
Ao final da tarde, após voltar ao ponto de início do passeio, o Trapiche de Icoaraci, é possível apreciar o belo pôr-do-Sol visto da orla, local que é inclusive mais do que aconselhado para quem gosta de fazer compras, sobretudo de itens de artesanato. Isso se explica pelo fato de Icoaraci ser considerada um polo na fabricação da famosa cerâmica Marajoara. Sendo assim, vale a pena passar nas organizadas lojinhas que têm uma bela vista para as ilhas e que possuem produtos muito bonitos e com preços justos. Tudo é organizado por uma Associação de Artesãos.
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Pequena rabeta (canoa) navegando pela baía do Guajará |
Por fim, a paisagem não urbanizada vista em algumas fotos pode enganar e fazer imaginar que estamos distantes da capital, por exemplo. Mas, incrivelmente, tudo o que foi visto nas imagens está dentro do território do município de Belém. São ilhas e mais ilhas, muitos distritos e vilas que apesar de estarem separados por baías, rios, furos e afins, fazem parte da capital do estado do Pará, o maior núcleo urbano da região Norte do país. Incrível!
Atualizado: confira a publicação sobre a ilha de Cotijuba e a praia do Vai-Quem-Quer clicando aqui.
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Barco 'Vencedor de Deus' navegando pela baía do Guajará |
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Cerâmica Marajoara |